Voto das mulheres faz 90 anos, mas desigualdade persiste

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Mesmo maioria e com mais estudo que os homens, elas são a minoria nas cadeiras de cargos públicos

Heloisa Monteiro, doutora em Educação e professora de história do Brasil – Foto: Rafaela Araújo | Ag. A TARDE

Neste dia 24 de fevereiro de 2022, o direito das mulheres ao voto comemora 90 anos. Um dia para celebrar mas também refletir sobre a atuação das mulheres como eleitoras. Somos 148 milhões de eleitores no Brasil, destes 52,5 % (77.649.569) são mulheres e 47,5% (70.228.457) são homens segundo as informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As mulheres possuem um grau de estudo maior que os homens e ainda são a minoria nas cadeiras de cargos públicos.

Desde criança Maria Eduarda Cunha Fonseca, 19 anos, estudante Interdisciplinar de Humanidades, acompanha as eleições. Com muitos tios e tias, acompanhava todos no dia de eleição e apertava a tecla confirma da urna eletrônica para o familiar. Via a eleição como um dia de festa, um feriado especial. Confirmava oito vezes o desejo de milhares de brasileiros.

No ensino médio despertou a curiosidade pela política ao estudar história do Brasil. Percebeu que deveria ter responsabilidade para entender o que acontece no Brasil e a importância do voto.

A estudante é atuante em conversas na universidade e, em casa, discute assuntos polêmicos e o que poderia ser feito de outra maneira. Fez o título online e não precisará do título de eleitor tradicional para votar, coisas da tecnologia digital.

Para a eleição deste ano de 2022, Duda já está acompanhando as discussões, mas como uma jovem do século 21, foge do tradicionalismo das informações, adora Podcast (conteúdo em áudio, disponibilizado através de um arquivo ou streaming, que conta com a vantagem de ser escutado sob demanda, quando o usuário desejar), para ter embasamento nas informações.

“Uma candidata que eu concordava com projetos e ideias, era Marina Silva, mas o financiamento político não permitiu que ela fosse adiante. Pouco tempo de TV e rádio apagam candidatos pequenos”, relata Duda. A garota ainda comenta: “Devemos ver as propostas de plano de governo e não as siglas partidárias”.

Sobre os 90 anos de conquista do direito ao Voto Feminino, Duda diz que as mulheres devem continuar se impondo e principalmente ter o direito de fala.

A estudante Maria Eduarda Fonseca, 19 anos, exibe o seu título de eleitor digital|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Política e redes sociais

Uma inquietação fez com que Carol Magalhães, 23 anos, jornalista, criasse um produto. Viu uma importância em consumir e atualizar-se sobre política, em especial para o público jovem. Criou uma página no Instragram chamada “Primeiro Voto”. Este projeto foi sua conclusão de curso, onde tirou nota 10 e ganhou dois prêmios, a Expocom Regional Norte/Nordeste e a Expocom Nacional. Seu objetivo é informar adolescentes do ensino médio entre 16 e 20 anos e dar dicas sobre política para a vida adulta.

“O objetivo é fazer com que as pessoas reflitam sobre política e derrubem as barreiras da ‘burrocracia’”, afirma Magalhães. “O jovem não se vê na política porque é tudo muito sério”, diz. “Em cargos políticos temos pouquíssimo jovens, mulheres, negros e LGBTQIA+”, observa a comunicadora.

Ao falar sobre o dia 24 de fevereiro, a interlocutora menciona: “É emocionante pensar que os direitos das mulheres em votar foram conquistados há 90 anos. A próxima luta é em quem se deve votar.”

Simone Sousa reclama por igualdade entre gêneros|  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE

Baiana “arretada”

Simone Sousa, 47 anos, baiana do restaurante Coliseu, no Pelourinho, defende os direitos da mulher com força na fala. “A mulher também deve ocupar cadeiras com os homens na política, nossos direitos são iguais”, afirma.  Ao relembrar da data da conquista do Voto Feminino, fala da importância para as mulheres como cidadãs e em especial da mulher negra. “Somos iguais aos homens, temos direitos nas escolhas de nossa cidade e de nosso País.” Lembra também que são homens que decidem por problemas femininos, “isso não está certo”, defende.

Recorte da história

Heloisa Monteiro, Doutora em Educação, 53 anos, professora de História do Liceu Salesiano e UNEB, fala da mulher e do voto no Brasil. “Vale ressaltar que a cobrança pelo direito ao voto em nosso País veio dos movimentos internacionais em especial das sufragistas (primeiras ativistas do feminismo no século XIX. Eram assim conhecidas justamente por terem iniciado um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto). Essa luta vem porque vivíamos e vivemos em uma sociedade machista e patriarcal”.

A mulher adquiriu o direito de voto em 1932, mas não eram todas as mulheres que votariam na próxima eleição, somente as casadas com autorização do marido e as solteiras com comprovante de trabalho e renda, acima de 2 mil réis. “Isso era um impedimento social, a maioria das mulheres, em especial as negras não tinham este direito de votar, porque a abolição da escravatura tinha ocorrido há somente 44 anos, nem todas tinham trabalho, muito menos esta renda”, explica Monteiro.

“Estudos ainda apontam para os dias de hoje que muitas mulheres, na sua maioria negras que trabalham em casas de famílias, não têm o direito de votar no dia de eleição, porque seus patrões não veem no voto delas uma importância, para exercer o seu papel de cidadão” destaca a professora.

“A data é importante mas deve ser refletida”, observa a professora.

24 de fevereiro de 2022
Fonte: Olga Leiria e Rafaela Araújo / A Tarde

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