Edificado por Elas: CBIC homenageia mulheres que fazem a história da construção
Você sabia que a obra da maior hidrelétrica subterrânea do sul do país, a Usina Hidrelétrica Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, antigo Complexo Hidrelétrico Capivari-Cachoeira, em Antonina, no Paraná, foi chefiada por uma mulher? Sim, pela curitibana Enedina Marques (1913-1981), primeira mulher a se formar em engenharia civil no estado do Paraná e primeira negra a se formar em engenharia no Brasil, em 1945. Em sua turma se formaram outros 32 engenheiros, todos homens.
Inaugurada em 1971, a usina tem capacidade total instalada de 260 MW, produzidos por quatro unidades geradoras repotencializadas em 1999 e reservatório de aproximadamente 1,5 milhão de m³ e 16,3 Km² de área.
Agora, se você já passou pela Avenida Paulista, em São Paulo, com certeza já viu o Museu de Arte de São Paulo (Masp), um marco na história da arquitetura do século XX. O que talvez você não saiba é que ele é uma das maiores realizações da arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1922).
Primeiro museu moderno do país, sua construção tem como base o uso de vidro e concreto suspenso aparente, combinando superfícies ásperas e sem acabamentos com leveza e suspensão. Inaugurado em 1968, a imponência da sua construção é uma contraposição aos prédios da avenida por sua área de convívio propiciada pelo “vão livre” usado como praça pela população.
Além disso, o Masp é o mais importante acervo de arte europeia do Hemisfério Sul. Reúne cerca de 11 mil obras nacionais e internacionais, que contemplam peças de artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Van Gogh, Renoir, Monet, Rafael, Cézanne, Modigliani e Picasso.
Mulheres empreendedoras
Pelo lado empresarial, um dos destaques é a também pioneira Bárbara Paludo, primeira mulher a fundar uma empresa de construção civil em Santa Catarina. Com 42 anos de história no mercado imobiliário, o grupo Katedral é um dos mais dinâmicos do setor no Estado. Agora conduzido por seus filhos, disponibiliza casas, apartamentos, condomínios e loteamentos.
Atualmente, Bárbara Paludo conduz a empresa Habitacon Investimentos S/A. Viúva aos 28 anos de idade, com quatro filhos pequenos para criar, a empresária começou a empreender e percebeu o seu dom para os negócios e sua visão de futuro. Ela conquistou espaço e respeito profissional no mercado, ao mesmo tempo em que construiu e cuidou de sua família.
Seu primeiro empreendimento foi um conjunto habitacional com 50 casas populares, em parceria com o Banco da APESC. “Sempre construí muitas casas populares, apesar de também atuar com o alto padrão. Para mim, sempre foi prioridade, porque meu pai dizia que uma família para ter dignidade tinha que ter endereço”, disse.
Para as empreendedoras, Bárbara Paludo manda um recado: “a mulher tem muito potencial. Ela só precisa saber em qual setor quer atuar. No início, tem altos e baixos, como em qualquer empresa. A persistência num empreendimento é o fator primordial para concluir a obra e ter sucesso”, salientou.
Ela também foi uma das fundadoras do Sinduscon-Oeste SC Chapecó, presidindo a entidade de 1998 a 2000, e da Câmara Estadual da Indústria da Construção em Santa Catarina, primeira mulher eleita para a sua presidência. Atualmente é diretora na Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) e do Sinduscon-Oeste SC Chapecó e vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Mulheres nos canteiros
Outra mulher de destaque no setor da construção é Maria do Amparo Xavier, primeira mestre de obras da Bahia. Natural de Camassandi, município de Jaguaribe.
Seu desejo de entrar no setor da construção surgiu aos 14 anos, quando pela primeira vez viu uma cidade. Até então, morava na roça, no interior da Bahia. “Eu tinha o sonho de um dia conhecer como se construía uma casa fechada, porque a minha era aberta, de palha”, frisou.
Maria do Amparo conta que em 1956, pegou um vestido, a certidão de nascimento e foi para a estrada tentar uma carona. Em um caminhão de bananas chegou a Salvador e ficou impressionada com as edificações da cidade, principalmente com os prédios. Levada pelo caminhoneiro a um canteiro de obras, lá pediu emprego e começou varrendo a obra.
Seu objetivo era ser mestre de obras. “Lá eu fui aprendendo a construir. Aprendi a levantar parede, a rebocar, e dei sequência às profissões da construção civil. Fui pedreira, carpinteira, armadora e eletricista predial. Assim, atingi a minha meta de passar pelas grandes empresas de construção civil do Estado da Bahia, o que me levou a ter um conhecimento muito grande. Eu fui encarregada de todas as profissões da construção, me aperfeiçoei e hoje sou considerada a primeira mestre de obras da Bahia”, disse.
Em 2019, Maria do Amparo deu nome ao projeto “Marias na Construção’, programa que capacita mulheres para todas as áreas do mercado de trabalho da construção civil em Salvador/BA. Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Bahia), a iniciativa faz parte do eixo capacitação e empregabilidade da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) e já formou 890 mulheres na capital soteropolitana. “Só não formou mais por que paramos em razão da pandemia da Covid-19”, destaca.
Atualmente, Maria do Amparo atua da defesa das mulheres, como secretária de políticas para as mulheres do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estrada, Pavimentação, Obras de Terraplanagem e Montagem Industrial do Estado da Bahia (Sintepav-BA) e na Força Sindical.
Para as mulheres que estão em situação de vulnerabilidade, desempregadas, ela recomenda a construção civil. “É o setor que mais emprega no nosso país”, diz, ao reforçar a importância delas se capacitarem. “Vocês se sentirão privilegiadas e valorizadas, porque vão estar empregadas e com dignidade. Não desistam, sigam em frente, lutem e conquistem seus espaços, sejam eles quais forem. A mulher tem que ocupar o seu espaço e não aceitar nenhum direito a menos”, destacou.
Mulheres no setor da construção
Apesar de ainda modesta, conforme dados de 2021 da RAIS do Ministério do Trabalho, é inegável que com muita luta e resistência ao longo do tempo as mulheres vêm ganhando destaque na cena nacional do setor da construção.
Em 2021, o estoque de trabalhadoras no setor da construção era de 250.906 mulheres, 10,85% de um total de mais de 2,3 milhões trabalhadores. Em 2006, essa participação era de 7,52% (108.229).
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) aproveita o início do mês de março para homenagear todas as mulheres do setor da construção do país.
Fonte: AGÊNCIA CBIC
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