Construindo pontes entre nós

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Fonte: José Nazal.

Artigo – Maurício Galvão

As pontes desempenham muitos papéis no espaço construído a partir da interferência humana. Como uma infraestrutura funcional, elas facilitam a mobilidade para milhares de pessoas por dia, encurtando trechos cotidianamente trafegados na cidade. Pontes podem ser maravilhas arquitetônicas, ícones culturais, atrações turísticas, construções motivadas por grandes expectativas da sociedade. Embora sejam, imediatamente, conectores físicos, que oportunizam o movimento entre diferentes áreas de uma cidade, entre cidades distintas e até países, elas também servem como conectores sociais, facilitando a interação entre as pessoas, comunidades, comércios, aliviando o engarrafamento para os trabalhadores em ônibus, carros e motos no dia-a-dia, tornando mais empática uma cidade inteira. Em alguns casos, podem até ser conectores emocionais, no papel de símbolos com os quais as pessoas se identificam ou lembrança visual que vive na memória dos lugares que as pessoas tem saudade ou desejam estar.

Na maioria dos casos, as pontes fazem parte da malha de ruas existente e sabemos a importância de tratar as ruas como lugares, espaços para se viver, aproveitar o tempo, não apenas para se passar, atravessar e pronto. Se entendermos a mesma filosofia a respeito das pontes, poderemos compreender de outra forma uma enorme quantidade de espaço público nas cidades em crescimento e tornar as pontes mais uma conexão entre lugares e menos um entreposto frio. Não apenas uma travessia concretada, mas um vínculo social e emocional entre pessoas, comunidades, bairros, gerações, gêneros, trocas, vivências. E essa idéia não é nova: as pessoas vêm construindo pontes multifuncionais há séculos, e ainda podemos aprender muito com essas estruturas e as tradições históricas que as cercam.

As pontes, portanto, não são apenas peças de infraestrutura, ou melhor, é decisão das cidades e as pessoas que as constroem que elas não sejam apenas isso. Os grandes espaços públicos são organismos complexos que devem envolver uma mistura de usos e pessoas, e concebê-los como espaços de uso único é o que as tornam monumentos urbanos de disputa agressiva, e não de partilha. A nova ponte de Ilhéus, a ponte Jorge Amado, seus vinte e três pares de estais de aço, ciclovia, via de pedestres e pista não é apenas dos carros, nem apenas dos pedestres, nem apenas dos ciclistas ou motociclistas, nem apenas dos ricos, nem apenas dos ilustres, nem apenas da velocidade, nem apenas do passar, nem apenas do voltar. Se o Pedro Bala de Amado desconfiava da igualdade no céu pela desigualdade que existia na terra, honremos autor e personagem com sua ponte, honrando a partilha do seu espaço com respeito e igualdade, desde já.

Cidades como a nossa, com pontes que cruzam corpos de água podem tirar proveito de seus arredores de poderosa beleza e criar espaços, para nós e para os visitantes, que atraem as pessoas a ficar, e não apenas passar. E aqueles que levantaram obstáculos, barreiras no coração de suas comunidades, por auto isolamento ou segregação socioespacial, podem começar a consertar essas feridas com trechos e espaços inovadores que as pontes provocam. Cairia muito bem mencionar nossa nova ponte como um símbolo de que cruzamos para o futuro. Mas o futuro, logo ali, carece de muito empenho, comunicação, observação, reflexão, coesão e trabalho duro, e mais importante, não podemos confundir a vistosa materialização da ponte com uma concretização que já reuniu os consensos em torno da cidade e definiu orientações para Ilhéus avançar. A ponte nos aquece o coração, é verdade. Aquece o meu e acredito que o seu também, mas ela aponta mais que um amuleto da sorte. Deve ser mais que apreciada, deve ser utilizada democraticamente e como conector das performances e potenciais de desenvolvimento. Quando penso na nova ponte, teima na minha memória um eco de muitos conflitos: conflito que a precede, conflito da expectativa, conflito sobre seu impacto, conflito sobre suas funções, conflito sobre sua chegada… Melhores memórias precisam ser criadas a partir de agora e vão ser criadas, certamente. Pontes são, estruturalmente, destinadas a unir. Tudo o que precisamos fazer é permiti-las fazer isso da melhor forma possível.

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